...Já estava escuro quando ela passou pela entrada. Sentou na mesa mais afastada e pediu um chocolate quente. Eu sei porque eu vi quando a garçonete  lhe serviu. 
A gente nunca pensa que alguém esta próximo o bastante de nós. Eu podia ouvir seu coração bater ou seus lábios mordendo...
Mas ainda assim, pra mim, ela estava sentada na mesa mais afastada. 
A máquina de milk-shake agora refletia de forma distorcida o meu rosto.
A gente nunca se acha bom o bastante para que alguém repare em nós ... Mas agora, sentado aqui, me dei conta de que não sei ao certo quem sou. Sei exatamente quem ela é, seu nome, aonde estuda, porque vem aqui... Mas não sei dizer bem quem eu sou, ou a quanto tempo deixei de usar aquelas roupas, e de ouvir os velhos discos. 
A muito tempo que não reparo na maneira como me visto pra vim aqui. Sempre saio pensando se ela vai ou não aparecer...
Ontem no ônibus tinha uma frase, provavelmente escrita por alguém usando as mesmas roupas que as minhas,  "O paraíso é ser-se perfeito.".
Além de usar as mesmas roupas, ele provavelmente, também sabia que eu me sentaria ali, e escreveu aquilo pra mim.
Eu sabia o que era preciso para ser feliz, só não sabia como faze-lo.
Ora Fernão! Como eu posso me sentir assim, se eu souber que ninguém mais sente, que mais ninguém pensa assim !? Como alguém pode se sentir perfeito, sem antes, se sentir importante para alguém?
Agora já faz umas duas horas desde que ela saiu.
Se levantou, arrumou o vestido, e veio até mim. Sabe como é!? É que eu sempre me sento no balcão, ao lado do caixa.
O curioso, é que ela percebeu que havia perdido sua comanda...
Eu nem pestanejei; meu peito se encheu de coragem, tomei minha comanda em mãos, e falei:
_Oi! Parece que você deixou cair isso.
Ela sorriu, abraçou os livros no peito, e nunca mais me viu.
                                                                                      - Wally Wild

Um comentário:

  1. Acho que o fato de conseguir enxergar uma cena ao ler, é um tipo de evidência de que ficou foda :B

    ResponderExcluir