Cartas para tolos



Com a ponta dos dedos toca o nariz
tateia todo o rosto, em busca de algo familiar
a muito tempo, os pelos da barba não dizem nada
ficaram mudos, confusos, preferiram não opinar.
Foi tamanho o esforço pra agradar
que hoje não reconhece mais o próprio rosto
não espera o próximo passo, não entende os que já deu.
A muito vem derramando o que sentia
falou demais, e o que era raro, ficou comum
perdeu valor, não se importavam mais.
De repente os dias ficaram iguais
nem mesmo as datas dos jornais mudavam mais
e a programação repetida, acabou por lhe contar os finais
dos filmes que sonhava assistir.
Já se passaram três meses, e Truman ainda fala com o espelho
a necessidade de contar com alguém, o levou a conversar consigo mesmo.
Vai lavar o rosto na água fria
de um impulso forçado, acorda a vida
relê as cartas que adiava e nunca escrevia.
A sinceridade não é o forte das pessoas cinzas
não cabe a ele ser mais tão sincero.
Hoje ele é só sorriso
a tristeza, guarda sob o umbigo
onde ninguém possa ver, onde não possam se aborrecer.
E o amor por quem sentia
também guardou sob a camisa
haverá de ter mais valor ali
já que ninguém mais queria. 


                                  - Wally Wild


"Tudo o que não me interessa, agora eu jogo fora..."

  

Enquanto o dia não vem



Em um quarto esfumaçado
emoldurado em lembranças 
a menina tece calada
metros e metros de distância.
Revirando a consciência
olhos pregados na janela
os dedos dançando anseios
transcrevendo a saudade dela. 
O computador manda notícia
conversa ela com a tela fria
faz de conta que ainda conta
segredos nos ouvidos da amiga.
Dizem que só quem tem saudade
sabe para que serve o tempo
a menina conta ansiosa
quanto falta pro grande momento.
O relógio tem hora, que parece que para
o coração na garganta acelera.
To assistindo o céu da saudade
escrevendo com estrelas o nome dela.
                         
                                                      - Wally Wild